quinta-feira, 28 de março de 2013

Questões



O que te cega, 
o que te pasma, 
o que te leva. 
O que te deixa sem fala, 
o que move, 
espanta, encanta, 
o que te manda. 
O que te deixa 
de cabeça pra baixo, 
o que te limita, 
as coisas que te irritam. 
O que te muda, 
o que te convence, 
o que te foge, 
o que te pertence. 
O que te lê, 
quantas palavras lhe cabem, 
o que acerta em cheio, 
o que nem passa perto. 
O que te pesa, 
te preocupa
O que te eleva, 
o que te faz flutuar?

Izuara Beckmann,
29 de Março de 2013.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Estandarte


Calem-se os sinos,
os barulhos,
as certezas.

Emudeçam as existências,
as desculpas,
as devidas culpas.

Parem as sinas,
mudem as rimas,
invertam a sorte.

E ergam-se os estandartes,
vamos à guerra,
tomemos parte.

Izuara Beckmann,
16 de Março de 2013.

domingo, 10 de março de 2013

A garota na chuva

          Aquele lugar parecia não fazer parte do todo que o cercava. Parecia não se encaixar. Parecia uma parte solta, colocada ali por pura artimanha do destino. Ali, se encontrava uma garota. Ela percebia isso a respeito do lugar, mas tudo bem, pois era assim que ela mesma se sentia. Deslocada. E como parece ser, duas peças que não se encaixam em lugar nenhum, ficam melhor juntas. Ela pertencia àquele lugar. Um lugar de lugar nenhum.

        Seus olhos pareciam perdidos no horizonte, mas só pra quem olha de fora. Ela sabia exatamente pra onde olhava. Observava a tempestade se formando, talvez por que gostasse dela, ou por se sentir parte dela também. A tempestade sempre chegava transformando a calmaria em caos, pessoas corriam, o trânsito enlouquecia, a algazarra se instaurava.

         Mas é bem verdade dizer que a garota ali, no lugar em que parecia menos deslocada, não se preocupava com isso. Esperava pela tempestade. Por simplesmente achar que ela, o lugar nenhum e a tempestade formavam juntos os encaixes que lhes faltavam, e os três, pareciam então pertencer a algo que sempre lhes coube.

      E essa é uma coisa que as pessoas não entenderiam. Talvez porque estivessem ocupadas tentando se esconder da chuva, os simplesmente por não darem a mínima. Tanto faz. Também não se pode culpar ninguém por não entender os sentimentos de uma garota parada na chuva, em um lugar que lhes parecesse comum.

           E então, a chuva. As trovoadas, os relâmpagos, e os raios riscando o céu escuro. Apesar de ser dia. E o sentimento num coração atento era puro alívio. Alívio por esquecer os desencaixes. Alívio por eles não importarem naquela hora. Era a garota que não pertencia a nenhum lugar, em um lugar que também não fazia parte de um todo com uma tempestade que, apesar de deixar tudo mais caótico, unia tudo isso em uma mesma peça. Peça, que pertencia a outro lugar, mas isso já é parte de outro conto.

Izuara Beckmann,
10 de Março de 2013.


terça-feira, 5 de março de 2013