domingo, 29 de abril de 2012

A estrada até aqui



Esse título só me lembra de capítulos finais de alguma temporada de Supernatural, e inevitavelmente começa a tocar na minha mente a música do Kansas: Carry on my wayward son, there'll be peace when you are done. Lay your weary head to rest, don't you cry no more…*

Talvez a vida seja mesmo isso, um conjunto de temporadas. E no fim de cada uma, a gente queira mesmo olhar pra trás e recapitular o que se passou. Bem, acho que é isto que eu estou fazendo aqui. Há quem diga que não se deve olhar pra trás, mas seguir sempre em frente. Eu não acho que olhar pra trás seja desistir de ir em frente, pelo contrário, me impulsiona a isso.


No caminho até aqui, usei as mais loucas desculpas para justificar a minha busca por felicidade, agora vejo que sempre esbarrei com ela nas esquinas da vida e as vezes a reconheci, outras vezes não. Afinal, a felicidade sempre se apresenta com um rosto diferente.

Mudei. Não me envergonho disso. Alguém vai dizer que evolui, outros que retrocedi... Eu chamo só de mudança. E acredito que a vida precisa delas. Tomei outros caminhos, fiz outras escolhas, juntei o que vivi pela estrada e fiz parte de mim. O importante é que sempre fui eu a decidir, por vezes certo e outras tantas errado. Quase uma tradução de mim: nem sempre certa, nem sempre errada.

E o que dizer dos que fazem parte dessa caminhada? São tão parte de mim quanto qualquer outro aprendizado. Uns caminham a pouco tempo, outros desde sempre e outros ainda estavam só de passagem. É a vida em sua dinâmica cotidiana.

Hoje, tenho liberdade e ainda nem sei direito o que fazer com ela. Tomo decisões e assumo suas consequências porque é isso que a liberdade impõe. Também sou insegura, mas esse é um direito que a liberdade me dá. Sigo por caminhos tortuosos, muitas vezes até errados, mas eles são necessários para que se reconheça o caminho certo.

Agora o tempo me escorre por entre os dedos, como poeira ao vento de uma outra canção do Kansas**. E tudo vai ficando para trás como essa estrada, que ainda se pode ver distante uma curva ou uma sinuosidade, mas que já está tão longe que o que resta é seguir em frente. Aos que ficam ou decidiram-se por outras estradas, meu sincero muito obrigado. Aos que vão continuar, dividiremos a incerteza do próximo passo.


Um conjunto aleatório ou previsíveis de eventos me trouxeram até aqui, daqui pra frente é sem saber***.

Izuara Beckmann,
29 de Abril de 2012.
Comentários:
*** Essa frase é também a primeira frase da música Lance de Dados - Engenheiros do Hawaii.
****Texto comemorativo, duas décadas e muita história pra contar.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Por trás das certezas


Por trás das certezas há ainda incertezas,
ainda há uma possibilidade não considerada...
ainda há o acaso, a infeliz coincidência.
Ainda há uma linha a ser traçada.

Atrás das certezas, ainda há o amanhã
que por si só já é incerto.
Ainda há uma improbabilidade,
um ponto de interrogação
ainda resta a dúvida...

Por trás das decisões já tomadas,
ainda há um último instante,
um último segundo para revertê-las.
Por trás da inevitável fatalidade,
ainda uma última chance,
um último suspiro.
Que pode acabar ficando para amanhã...

Por trás do destino traçado,
ainda uma ponta solta...
Que quase sempre aparece na última cena,
pra desfazer as certezas
e selar a nossa vulnerabilidade frente aos fatos.

Por trás das certezas, o aqui e agora,
que só prova que estávamos errados
quanto a uma tentativa de prever o que aconteceria.
Por trás das certezas a surpresa...
que existe para nos contradizer,
e fazer pulsar forte o coração frente ao desconhecido.
Que atende pelo nome de amanhã...

Izuara Beckmann,
27 de Abril de 2012
Comentários:
* Esse poema ainda é uma forte influência do melhor livro científico (e um dos poucos) que eu já li, tratando do papel do acaso e de como este pode determinar nossas vidas. Pra quem quiser conferir: O Andar do Bêbado - Leonard Mlodinow

terça-feira, 24 de abril de 2012

Tons de Cinza



Gosto do cinza do anoitecer,
quando o vermelho intenso
vai sendo substituído,
por um azul acinzentado.
Gosto da cor nostálgica,
que vai tingindo o céu,
precedendo a escuridão...

Gosto da linha tênue do horizonte,
confundindo-se com as linhas do meu pensamento.
Desenhando, rabiscando, modelando
uma paisagem dentro em mim.
Uma imagem em tons de cinza,
uma tradução visual,
da imaginação que voa longe...

Gosto do céu antes da tempestade,
das nuvens baixas e carregadas.
Da claridade que se esvai,
do tempo que escorre por entre os dedos.
Difícil de saber a diferença na hora,
já que o tempo parece correr
na velocidade que a claridade se vai...

Gosto de estar aqui,
como espectadora,
como parte pequena dessa cena.
Olhando de longe
algo que está tão perto,
quem sabe até aqui dentro.


Izuara Beckmann,
24 de Abril de 2012.

domingo, 22 de abril de 2012

Máscaras



Por trás dessa máscara de certezas,
ainda há questionamentos, dúvidas e perguntas sem respostas.
Por trás de todos esses objetivos perfeitos,
ainda há ruínas de sonhos desfeitos...

Por trás dessa aparência forte,
ainda rola uma lágrima ignorada...
Por trás de toda essa segurança,
ainda há um pé atrás em algum lugar.

Por trás desse disfarce de invencibilidade,
alguém ainda se senta e chora
depois de uma derrota qualquer...
Por trás de uma máscara vitoriosa,
ainda há o gosto de cada derrota já experimentada.

Por trás dessa máscara de independência,
ainda existe uma forte dependência.
Por trás desse coração inacessível,
ainda bate um sentimento sensível.
Por trás desse disfarce,
ainda há um rosto amigo.
Ainda há um sincero sorriso.

Izuara Beckmann,
22 de Abril de 2012

terça-feira, 17 de abril de 2012

Janela



Pela janela de casa, eu vejo a rua
Pela janela do avião eu vejo o céu,
e pela janela da imaginação, revivo lembranças.
Assisto a acontecimentos como se participasse de modo invisível,
Como se olhasse de uma janela,
a correria do mundo lá fora,
e vivenciasse cada conversa, cada olhar...

Da janela,
a vida lá fora parece ensaiada,
e o horizonte, um componente do cenário...
As pessoas, protagonistas de suas próprias vidas,
talvez me olhem aqui na janela
sem se dar conta de que agora, sou parte da plateia.
Talvez esses mesmos me olhem em uma outra ocasião,
como parte de uma plateia, de uma história que eu dirijo e protagonizo...

Um palco sem figurantes,
um roteiro sem desfecho conhecido,
a vida segue seu rumo,
sem ensaios e sem regravações.
Com cenas emocionantes,
e alguns erros nas gravações.

Izuara Beckmann,
17 de Abril de 2012.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Desencantada




Ela sabia. Sabia desde o início que se tratava de ilusão. Afinal, já não acreditava em finais felizes e por definição própria era desencantada. Um rapaz como ele e toda aquela atenção pra uma garota como ela, toda preocupação, toda simpatia, toda delicadeza, todo aquele charme e aquele sorriso bobo. Ela sabia que era ilusão.

Ilusão, era tudo que pensava quando estava com ele. Não se permitiria entregar-se a este devaneio, mantinha os dois pés atrás. Desviava a atenção pra qualquer ponto, quando ele lhe vinha à cabeça. “Não posso acreditar, é ilusão!”- repetia para si mesma, enquanto ele continuava a olhá-la com um sorriso bobo.

Mas as coisas não continuam como deviam ser... E em alguma infeliz coincidência, aproximaram-se o suficiente para ficarem sem ação. A mão dele aproximou-se do seu rosto enquanto ela tentava se convencer à mover-se dali – era ilusão.- repetia.  Os lábios se encostaram, os pensamentos se perderam, se misturaram e ficaram sem sentido e as calaram-se relutâncias.

Não sabiam dizer quanto tempo durou o beijo, mas com certeza, o silêncio entre este e o beijo seguinte foi maior. Ela, com um sorriso tímido, pensava – É ilusão, eu sei.

O que vamos dizer? Talvez ela tenha mesmo se cansado da vida real e acabara de preferir uma ilusão. A vida é mesmo assim... Será ilusão? Talvez. Mas neste momento era real. 

Izuara Beckmann,
12 de Março de 2012.*
Comentários:
*Escrito bem antes, encontrado só dia 12 de Março. 

terça-feira, 10 de abril de 2012

Do lado de dentro



Chuva, vento, tempestade,
Frio e escuridão.
Aqui dentro ou lá fora?

Tempestade em mim,
desarrumando o que já tinha lugar definido
e planos traçados.
Me deixando aqui,
com mais uma folha em branco...
E hoje vou deixa-la assim.

Ventania,
curvando expectativas.
Levando pinturas amareladas de mim...
Vida mudando, se renovando
mas agora é só o vento.
Aqui dentro ou lá fora?

Chuva,
lavando e inundando emoções,
arrastando sentimentos sem nome não sei pra onde.
Molhando a mobília,
daqui de dentro ou lá de fora?

Frio,
ressaltando a solidão,
destacando as lacunas não preenchidas de mim.
Num balançar mudo,
a mudar tudo em mim.
Enquanto embalam-se mudas,
as vidas lá fora...

Escuridão,
mais uma certeza do que uma opção.
Enquanto não dilatam-se,
as pupilas do coração,
fico a cegar-me de ilusões,
e as verdades se vão...

Daqui, eu olho a chuva lá fora.
Deixo as lágrimas brotarem.
Tudo parece ser o retrato,
concreto e abstrato,
sem porquê ou porém,
de tudo que acontece aqui dentro.
Izuara Beckmann,
10 de Abril de 2012

terça-feira, 3 de abril de 2012

Rimas Soltas




Quero rimar esses versos,
quero que rimem com meu sentimento hoje,
com minha indecisão e imprecisão,
com meu ser e não ser.

Quero que tragam a rima do dia-a-dia,
o imperceptível em sua melodia...
Quero que traduzam os olhares,
apesar dos pesares...

Quero que discorram sobre emoções ainda sem nome,
aquilo, indefinido, ainda sem resposta.
Quero que falem do antigo,
de tom amarelado, poético e esquecido.

Quero que capturem a simplicidade,
o óbvio, o ignorado e o disperso.
Quero que rimem com felicidade,
que talvez ainda seja rumo incerto.

Quero rimá-los em rimas soltas,
em um ritmo singelo.
Ainda que sejam tolas,
formem juntas um tom belo.

Quero que forjem um novo prosseguir,
e aqui não seja seu último paradeiro.
Quero que continuem em cada sentir,
em cada pausa para olhar o céu...

Quero que expressem, nem dor nem alegria,
talvez algo ainda sem tradução.
Que não digam mais do que precisam dizer,
e não voem além da imaginação.

Izuara Beckmann,
03 de Abril de 2012