sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Adormeça


Deixe o cansaço vencer hoje,
não se pode ganhar sempre.
Nem tudo pode ser mudado,
talvez nem esquecido, mas tente.

A chuva continuará lá fora,
sem que você faça parte dela.
Então, apenas vá dormir.
E deixe o vento sussurrar na janela.

Amanhã, será um novo dia.
Por hoje, ainda tens a tempestade.
Pode ser que tudo isso a ensine,
a enfrentar o que chamam de realidade.

Mas não se esqueças de acordar,
tudo está lá fora, e as horas estão passando.
Não importa por quanto tempo fujas,
dias bons e ruins continuarão te esperando.

Izuara Beckmann,
29 de Dezembro de 2012.

O Dissimulador



Atrás das paredes e grades,
olhar de gelo, sorriso vazio.
Tudo se encaixando em peças,
de uma vida sedenta e febril.

Não sabia quanto tempo se passara,
mal se lembrava de quem fora.
Tudo estava atrás dos disfarces,
escondendo-se de qualquer mudança vindoura.

Acostumou-se à superfície,
usou o disfarce como garantia.
Não seria ferido de novo,
tudo correria na mais perfeita harmonia.

Quanto quis retirá-la,
a mascará era tudo que lhe restara.
Vivia então, uma versão não autêntica de si mesmo.
Este era o preço que a dissimulação lhe custara.

Izuara Beckmann,
28 de Dezembro de 2012.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Por entre os dedos


Tem certeza do caminho a seguir,
sabe exatamente quem quer ser.
Domina tudo que lhe convém,
não há nada que pense que não pode ter.

Espera encontrar todas as respostas,
pensa ter encontrado a rota segura.
Não perde nenhuma aposta,
ignora tudo que não lhe está à altura.

Ostenta um sorriso fácil,
e atrás da máscara esconde seu temor.
Aparentemente nada o assusta,
Pensa viver a vitória em todo seu sabor.

Se agarra a tudo que consegue.
Está seguro de que compreende a verdade.
Mas ainda não sabe, por entre os dedos
lhe foge a preciosa liberdade.

Izuara Beckmann,
18 de Dezembro de 2012.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Surpreenda-me



Surpreenda-me,
quebre o silêncio, o hábito.
Esqueça a rotina,
dedique-se ao inédito.

Rapte-me.
Chegue sem motivo.
Me desconcerte,
me faça perder os sentidos.

Tire meus pés do chão,
Me faça voar.
Me desloque, me arraste.
Me deixe sem ar.

Discorra sobre coisas sem significado,
sobre tudo que paira no ar.
Mas não me deixe lembrar,
do que não dá mais pra mudar.

Vamos viver de fantasias.
Fale-me do improvável,
vamos viajar na imaginação.
Sonhar com tudo que é inalcançável. 

Izuara Beckmann,
05 de Dezembro de 2012.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Quietude



No fim, o silêncio é mais agradável.
E talvez seja melhor mesmo estar sozinho.
Deixar que a ausência preencha mais,
e a quietude, te leve a outro caminho.

Enfim, você se percebe em mais uma rota sem saída.
Então, procure algo em que acreditar,
olhe pra dentro de si mesmo.
Veja quanto ainda falta a desvendar.

Por fim, é melhor mesmo fechar os olhos.
Deixar que o silêncio te envolva, leve e indolor.
E quem sabe, um novo dia te encontre assim,
num nostálgico e solitário torpor.

Nem todo fim chega quando se quer.
Nem toda pausa te faz pensar.
Nem todo ponto está onde deveria,
mas, todo sonho foi feito pra sonhar.

Izuara Beckmann,
03 de Dezembro de 2012.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Passos turvos



Daqui onde estamos,
até o próximo passo,
nada é visto com clareza.
Tudo é opaco.

Mas como saber agora?
Como prever o próximo lance?
Talvez leve uma vida pra descobrir,
que não se tem mais do que uma chance.

Talvez tenhamos apostado tudo em uma ilusão
Ou nos orgulhemos do rumo que tomamos.
O fato é que fracassos e vitórias,
nos fizeram ser como somos.

Decidimos por caminhos,
estes, nos marcarão para toda a vida.

Portanto, certo ou errado,
certifique-se de estar vivendo o que escolheu.

Izuara Beckmann,
16 de Novembro de 2012.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Contravenção



E se quero seguir em todas as direções?
Uma vida, um sentido. Contradição!
Um dom , um destino. Ilusão.
E se quero andar na contramão?


Izuara Beckmann,
08 de Novembro de 2012.
Comentários:
* Contravenção 
(francês contravention, do latim contraventum, supino de contravenio, -ire, opor-se, tomar posição contra) 
s. f.
1. Infração.
2. Transgressão.
3. Execução de um ato conforme está ordenado que não seja feito.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Asfixia



As paredes estão mais próximas,
o tempo passa mais rápido.
Tudo a volta se move,
como se nada mais importasse.
O que você está fazendo?
Vivendo ou sobrevivendo?
Os dias correm, os meses voam.
Está cada vez mais difícil respirar aqui.

Faça o melhor que você pode,
com o pouco de tempo que tem.
Porque não se pode saber o que vem depois,
talvez tudo continue correndo,
e não sobre tempo pra ser feliz.

Aproveite hoje, viva o agora.
Porque isso é tudo que temos.

Presos em nossas próprias predeterminações.
Ou enclausurados em uma teia de fracassos.
Nada disso importa agora.
Se quer saber o que sobra de verdade,
Permita-se voar,
permita-se experimentar o gosto da liberdade.


Izuara Beckmann,
01 de Novembro de 2012.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Vertigem



Clandestino em mim,
perdido no tempo.
Me deixe só,
em um ritmo qualquer de pensamentos.

Tomando qualquer rumo incerto,
engolindo uma derrota qualquer.
Ignorando o que não tem perdão,
Agindo sem uma explicação sequer.

Os sonhos passam,
em queda livre,
em uma vertigem qualquer.

No ritmo de nossa resistência,
os anseios se vão.
Em seu próprio ritmo de sobrevivência.

Izuara Beckmann,
07 de Outubro de 2012.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Fantasmas



Onde vão dar os caminhos que não tomamos?
Que ainda existem um pouco em nós?
Pra que lado foi o que não escolhemos?
Tudo tão diferente do que hoje temos.

Volta e meia, ainda voltamos ao mesmo lugar.
Alguma decisão não tomada ainda nos persegue.
Uma frase não pontuada continua na mente a vagar,
procurando qualquer chance de continuar a inquietar.

Onde foi escrita a história que decidimos não viver?
O que foi feito do destino que resolvemos não traçar?
Quem sabe o rumo certo pra poder tomar?
Quem pode saber onde tudo isso vai dar?

Tudo continua por aí,
lembranças espectrais a encarar.
Tudo continua aqui,
como fantasmas a assombrar.

Izuara Beckmann,
04 de Outubro de 2012.


sábado, 22 de setembro de 2012

Expectativas

 Nem tudo é o que parece,
nem tudo vai ser o que promete.
Nas sombras, inerte,
a triste realidade permanece.

Pela intuição, definir uma conclusão qualquer.
Pelo simples prazer de decepcionar-se,
fazer de um anseio uma rota.
Quando a hora chegar, será só que for pra ser.

Acreditar além do próximo passo,
às cegas projetar o que se espera.
Insatisfeito com o que se tem,
no outono querer primavera.

Do ontem, lamentar-se pelo que se foi.
Do hoje, preferir o que ainda vem.
Do amanhã, querer o que não se tem.

Izuara Beckmann,
18 de Setembro de 2012. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Tempo, tempo, tempo.


Tenho quase nada de tempo,
menos ainda de paciência.
Então, não me peça pra esperar.
Não estou a fim de desvendar sua ciência.

Não me interessa o que ficou,
ou o que está por vir.
Se o que temos agora não basta,
tantas outras coisas ainda vão nos ferir.

O passado e o presente ocuparão a mesma página
logo no próximo momento.
E ainda estaremos olhando pra cima,
esperando as estrelas se desprenderem do firmamento.

Não é questão de opinião,
o tempo vai continuar correndo.
Os dias vão continuar passando por nós,
como poeira por entre os dedos escorrendo.

Tempo que muda,
tempo que nos trai.
Tempo que voa,
tempo que se esvai.


Izuara Beckmann,
11 de Setembro de 2012.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Nostalgia


Tenho uma folha em branco,
E uma paisagem de tirar o fôlego, de fundo...
E me pego pensando no que passou,
naquilo tudo que não está mais aqui.
Me lembrando das coisas que me faziam mal.

Me pego vagando no vazio que elas deixaram em mim.
Olho esse pôr-do-sol, diferente de todos os outros,
desejando que ele fosse aquele de outro dia,
e me devolvesse o seu sorriso, a sua presença.

Fico a observar o horizonte,
com o tom amarelado de outro dia.
Os dias que vão perdendo a cor...
Deixo o vento me arrastar por aí,
me levando a fechar os olhos,
e quem sabe acordar com você aqui.

Ando sem direção por aí,
desejando encontrar algum sentido escondido,
em um passado que eu já desejava ter esquecido.
Ouço a mesma música de outro dia,
reconheço os mesmos rostos e as mesmas conversas.
E isso me coloca um sorriso bobo na cara,
olhando para um espaço vazio.

Passeio entre esses fantasmas,
de decisões não tomadas,
de escolhas por fazer.
Fantasmas de ausências,
presenças incoerentes em mim.
Na verdade, todos são
fantasmas de uma falta que eu não sinto,
de uma dor que eu não quero.

Izuara Beckmann,
05 de Julho de 2012.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Grito de Paz



Me segure se eu falar,
cansei de me calar.
Nada mais vai me deter,
estou certa do que quero fazer.

Tenho muita coisa aqui guardada,
milhões de frases não terminadas.
Já engoli sapos demais,
veja agora do que sou capaz!

Cansei de aceitar tudo calada,
mesmo se não der em nada,
não me calo. Dessa vez eu vou gritar!
Todos lá fora, precisam escutar.

Há uma solução pra tudo,
pra mudar este mundo.
Somos capazes de amar,
essa é a maior mudança que há.

Já me cansei dessa nossa indiferença,
só quando vermos no outro a semelhança,
poderemos então, o planeta mudar
naquilo que sonhamos em o transformar.

Podemos mudar, depende de mim e de você.
Basta assumirmos o que somos chamados a ser.
Arregaçar as mangas, ir à luta.
Ver o dia terminar para a maldade e raiar por uma causa justa.

Um novo dia de igualdade, amor e paz,
o despertar de um novo mundo capaz
de enxergar mais de um palmo a frente do nariz.
Onde todos tenham a oportunidade de “ser feliz*”.

Izuara Beckmann,
24 de Junho de 2012.
Comentários:
*"Ser feliz", assim mesmo, no singular. Porque a felicidade é individual. Não pode ser coletiva, já que cada um tem sua própria definição de felicidade, que deve ser respeitada individualmente.

domingo, 24 de junho de 2012

Projeções


Não vou estar sempre aqui,
não vou lutar sempre assim.
Me encontrarão bem longe daqui,
em outra dimensão de mim.

Não vou andar sempre na mesma direção,
vou tomar outras rotas,
arriscar por onde mandar o coração,
vagar por ideias remotas.

Não vou arriscar sempre o mesmo palpite,
nem ter todas as certezas à mão.
Vou pra onde o amor existe,
embriagar-me de emoção.

Não vou carregar sempre a mesma expressão,
nem ostentar pra sempre a mesma fachada.
Tomarei qualquer nova decisão,
pra encaixar as peças de uma vida sonhada.

Não vou ter sempre os mesmos sonhos
uns serão passado, outros realidade.
No fundo tudo é uma projeção,
de tudo que um dia, sentirei saudades.


Izuara Beckmann,
24 de Junho de 2012.



quinta-feira, 21 de junho de 2012

Dramaturgia



Me sinto melhor aqui, como espectadora de mim.
Assistindo de fora, minha própria cena.
Seguindo um roteiro que nem me lembro se escrevi.
Interpretando faces de mim que não reconheço,
usando máscaras que nem mesmo lembro porque criei.
Aqui, sem motivos os porquês,
vivendo uma dramaturgia que nunca ensaiei.

Parece que só eu mesmo ainda estou na plateia.
Dessa peça que sou protagonista.
Todos de algum jeito já se convenceram a ir embora.
Ainda assim, algum desinformado dá as caras.
No começo, finge se importar.
Depois este também dá as costas.

Me pergunto o que eu faço pra me convencer?
Não tem nada aqui que me identifique,
como esta personagem que finjo ser.
Não há argumentos pra me segurar.
Por que ainda estou aqui?
A pergunta é mais fácil que a resposta.

O coração ainda ignora os fatos.
Quer se agarrar a qualquer coisa que sobra.
Mesmo que não seja relevante.
Mesmo uma projeção errada,
de uma esperança passada.

Não tem mais nada aqui, tento convencê-lo.
Mas ele ainda vê aquela menininha,
que acreditava que tudo ia dar certo.
Que toda realidade seria sonho.
Não posso culpá-lo, também vejo.
As lágrimas que rolam são prova disso.
Mas o coração não chora.
Agarrar-se a qualquer vestígio de esperança é o que faz.
Pra tentar secar as lágrimas, que não sou capaz.

Izuara Beckmann,
21 de Junho de 2012.

sábado, 16 de junho de 2012

Quebra-Cabeça



Sou parte incompleta de qualquer coisa,
De uma canção que não foi gravada,
ou tocou só até a metade aquele dia.
Deixando no ar a nostalgia.

Sou um jogo paralelo de palavras cruzadas,
Que se encontram lá onde as paralelas se cruzam, se cruzam?
Sou uma pergunta sem resposta,
ou uma resposta pra uma pergunta que ninguém fez.

Sou parte indefinida de uma definição qualquer,
um sorriso num rosto desconhecido,
e uma lágrima que rola esquecida.

Faço parte da parte que não entrou pra história,
uma ideia que nem chegou ao papel.
Ficou presa, nos traços da memória.

Izuara Beckmann,
17 de Junho de 2012.




quinta-feira, 7 de junho de 2012

O amanhã e sua rima



Deixe vir o amanhã e sua sina
com toda e qualquer coisa que couber nessa rima.
Deixe brilhar o futuro como um sorriso,
em seu traçar tênue e impreciso.

Que venham as confirmações e negações,
das nossas tramas e suas ligações.
Que o brilho desse novo dia venha raiar,
e depois dessa noite, venha o mundo clarear.

Deixa vir o aleatório ou pré-determinado
desse novo dia ainda inacabado.
Deixe vir as ilusões e afirmações,
em um colorido novo de sensações.

Deixe pairar no ar a incerteza,
palpitando em nós, com toda sua beleza.
Deixe que vá se realizando,
tudo que até aqui viemos sonhando.‏

Izuara Beckmann,
06 de Junho de 2012.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Jogo de opções



Escolha nossa, será que a temos?
Entre o eterno e o passageiro   
Entre o que não sabemos e o que conhecemos,
Entre a brisa e o nevoeiro.

Entre ser você mesmo,
ou outra pessoa qualquer.
Entre lançar-se ao abismo,
ou nem arriscar sequer.

Onde abandonar as armas,
até que ponto confiar.
Onde deixar cair as máscaras,
as certezas à questionar...

Cabe à nós decidir.
Entre sentir e ignorar,
resistir ou desistir,
Esquecer ou lembrar.

Escolher,
O que vestir,
o que comer,
pra onde ir
e do que se esconder.

É a nossa chance,
é a nossa vez de jogar,
Então, mova as peças... Avance!
Sem medo de errar.

Izuara Beckmann,
04 de Junho de 2012.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Rimas Soltas (adaptado*)




Quero rimar esses versos,
quero que rimem com meu sentimento hoje,
com minha indecisão e imprecisão,
com os desejos mais íntimos do coração.

Quero que tragam a rima do dia-a-dia,
o imperceptível em sua melodia...
Quero que traduzam os olhares,
apesar dos pesares...

Quero que discorram sobre emoções ainda sem nome.
Quero que falem do antigo,
aquilo, indefinido, ainda sem resposta
de tom amarelado, poético e esquecido.

Quero que capturem a simplicidade,
o óbvio, o ignorado e o disperso.
Quero que rimem com felicidade,
que talvez ainda seja rumo incerto.

Quero rimá-los em rimas soltas,
em um ritmo singelo.
Ainda que pareçam tolas,
formem juntas um tom belo.

Quero que forjem um novo prosseguir,
e aqui não seja sua última passagem.
Quero que continuem em cada sentir,
em cada detalhe desta paisagem.

Quero que expressem, nem dor nem alegria,
talvez algo ainda sem tradução.
Que não digam mais do que precisam dizer,
e não voem além da imaginação.




Izuara Beckmann.
Adaptado em 31 de Maio de 2012.

Comentários:
*
A versão original da poesia pode ser encontrada em Rimas Soltas.
** Poesia adaptada também publicada no Portal Quinari.



domingo, 27 de maio de 2012

Ah, o amor!


Ah, o amor e sua rebeldia,
com sua doce melodia,
a embalar dois seres numa mesma sintonia,
deixando a vida com cara de nostalgia.

Ah, o amor em sua confusão
que moves ainda a emoção,
encaixa-se em qualquer canto do coração,
Ignorando a incerteza dos dias que virão.

Ah, o amor em sua brandura,
misturando tudo em doses de loucura,
dilui-se em sonhos a amargura.
Escreve-se tudo em uma nova partitura.

Ah, o amor em sua insensatez,
devora pouco a pouco a lucidez.
E nos leva até onde, talvez,
não escapemos mais de sua embriaguez. 

Izuara Beckmann,
27 de Maio de 2012.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Auto-estrada



Hoje, tomei o caminho contrário
hoje, esqueci o habitual e comum,
aventurei-me por esse caminho desconhecido.
Lancei-me nesse abismo sem fim, será que tem?

Nessa loucura, como costumam chamar,
descobri pedaços do paraíso.
Em cada curva, uma nova emoção
e já não importava mais a prevalência da razão.

Quis continuar nessa rota,
quis o desconhecido, o novo, o improvável.
Quis o gosto de uma decisão só minha,
quis o doce e o amargo das consequências.

Tracei planos, e segui por outra estrada
e olhar pra trás já não me pesa sobre os ombros,
nada pode mudar o que ficou,
considerando isso, tenho tudo ainda por fazer.

Talvez me esqueça do caminho e me perca de novo,
mas estar perdido é uma questão de ponto de vista.
Se estou, não me importo. Será que estou?
O que sou não me recordo. Já fui?

As coisas ainda parecem se repetir num ciclo ensaiado,
numa frequência irritante.
Tudo bem, devo mesmo aprender a lidar com tudo isso.
Tudo isso é contratempo nessa estrada,
que eu não sei se tem fim, será que tem?

Izuara Beckmann,
24 de Maio de 2012.
Comentários:
* Escrito ontem, e ontem, me parecia incompleto. Hoje, já me parece completo. Fica a (des)gosto de quem lê.

domingo, 13 de maio de 2012

Cinza em cinzas



Cinza,
dos espelhos,
das sinas.
Dos avessos,
das rimas.

Cinza,
dos telhados,
das cidades,
das paredes,
das sonoridades.

Cinza,
da rua,
da nuvem.
Da lua.
Do frio,
da noite.

Cinza,
no abstrato,
no reflexo,
no compacto,
no incompleto.

Cinzas,
dos amores.
Do amargo
nos sabores.

Cinzas,
das complexidades,
das incapacidades,
das verdades.

Izuara Beckmann,
13 de Maio de 2012.



terça-feira, 8 de maio de 2012

Silêncio e solidão



Encanta-me a solidão,
Aqui, eu não preciso repetir o que já disse,
eu nem preciso dizer.
É como se encarasse um espelho de mim,
sem as máscaras que costumamos ter,
e pudesse ver as cicatrizes que elas não deixam transparecer.

E posso continuar assim, muda.
Aliás, esta é outra beleza da solidão, o silêncio.
Posso finalmente ouvir os movimentos silenciosos,
os pulsares mudos de emoções,
o ritmo suave das canções que tocam imperceptíveis...

Aqui, me deixo embalar por essa brisa branda,
por esse sussurrar calmo das folhas ao vento,
por essa melodia viva e pulsante, no entanto muda,
que palpita dentro em mim...

Aqui, fico a encarar-me de frente
sem medo que me faltem as palavras,
ou as justificativas para o que fiz ou deixei de fazer.

Não me preocupo com quem fui no caminho até aqui,
basta-me a certeza de que fiz o que podia com o que tinha nas mãos,
usando as oportunidades que possuía.

Aqui, sou quem eu sou de verdade,
não quem me permito ser lá fora.
Enfrento-me com os medos infantis ,
e com coragens inconsequentes que tenho,
aceito-me em meus avessos. 
Afinal, isso é meu... Isso sou eu.

Izuara Beckmann,
08 de Maio de 2012
Comentários:
* Hoje, abandonando as rimas, escrevi do jeito que veio a mente. Afinal, só porque é confuso, não quer dizer que não faça sentido. E os pensamentos, assim como a vida, não seguem uma linha reta e previsível, talvez até, porque nós preferimos as surpresas...
** Para desmentir o que disse até aqui, a última estrofe foi acrescentada depois, na releitura. Não me culpo por meus impulsos, afinal, isso é meu... Sou eu.


quinta-feira, 3 de maio de 2012

O Sabor da Vida



Quero viver enquanto estiver viva,
enquanto ainda pulsar um coração.
Apostando em cada tentativa,
enquanto ainda encantar-me a emoção.

Viver, enquanto estiver viva
Enquanto soar ainda a melodia.
Enquanto ainda restar alternativa,
mesmo depois de terminado o dia.

Viver, a base de qualquer expectativa,
à luz de um sonho qualquer.
Viver enquanto estiver viva,
estando onde estiver.

Enquanto estiver viva... Viver,
enquanto brilhar essa luz intensa,
sem me curvar nem ceder
à margem de qualquer desistência.

Viver a vida em todo o seu sabor...
Viver, enquanto estiver viva
Afinal viver é melhor,
quando me sinto viva.

Izuara Beckmann,
03 de Maio de 2012.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Gente Grande


Era uma vez um mundo de gente grande. E como toda gente grande, só se preocupavam com coisas grandes. Um lugar onde as minorias não tinham vez, só valia a pena apostar em coisas maiores. Um mundo de simplicidades esquecidas e de detalhes ignorados, pois eram pequenos demais para serem levados em conta.

Ninguém dedicava-se ao comum e dispensável, todo o tempo era estritamente calculado e empregado em coisas grandes e relevantes. E ninguém mais tinha paciência com as coisas bobas como conversas engraçadas, pôr-do-sol ou caminhada ao ar livre, ou banho de chuva... Tudo isso era pequeno demais para toda aquela gente grande. Nem mesmo as crianças estavam livres para isto, afinal tinham que começar cedo a se preparar para as grandes responsabilidades.

Um dia, no planeta das coisas grandes, todos estavam ocupados com suas grandes coisas quando tudo começou a desprender-se aos poucos. Mas ninguém deu atenção, pois tinham coisas maiores com que se preocupar. Até que tudo foi de vez ao chão. 

E, finalmente as pessoas grandes aprenderam que as coisas grandes também são feitas de simplicidades e pequenos detalhes. 

Izuara Beckmann,
25 de Março de 2012.
Comentários:
* Não acho que o mundo atual seja esse mundo de gente grande, mas cada vez mais caminhamos para isso. E quando o dia das "pessoas grandes" chegar, eu quero continuar aqui, pequena. Fazendo coisas de gente pequena, coisas dispensáveis, banais e até tolas. Quero estar aqui, atenta aos detalhes e não quero perder o imperceptível, as simplicidades.

domingo, 29 de abril de 2012

A estrada até aqui



Esse título só me lembra de capítulos finais de alguma temporada de Supernatural, e inevitavelmente começa a tocar na minha mente a música do Kansas: Carry on my wayward son, there'll be peace when you are done. Lay your weary head to rest, don't you cry no more…*

Talvez a vida seja mesmo isso, um conjunto de temporadas. E no fim de cada uma, a gente queira mesmo olhar pra trás e recapitular o que se passou. Bem, acho que é isto que eu estou fazendo aqui. Há quem diga que não se deve olhar pra trás, mas seguir sempre em frente. Eu não acho que olhar pra trás seja desistir de ir em frente, pelo contrário, me impulsiona a isso.


No caminho até aqui, usei as mais loucas desculpas para justificar a minha busca por felicidade, agora vejo que sempre esbarrei com ela nas esquinas da vida e as vezes a reconheci, outras vezes não. Afinal, a felicidade sempre se apresenta com um rosto diferente.

Mudei. Não me envergonho disso. Alguém vai dizer que evolui, outros que retrocedi... Eu chamo só de mudança. E acredito que a vida precisa delas. Tomei outros caminhos, fiz outras escolhas, juntei o que vivi pela estrada e fiz parte de mim. O importante é que sempre fui eu a decidir, por vezes certo e outras tantas errado. Quase uma tradução de mim: nem sempre certa, nem sempre errada.

E o que dizer dos que fazem parte dessa caminhada? São tão parte de mim quanto qualquer outro aprendizado. Uns caminham a pouco tempo, outros desde sempre e outros ainda estavam só de passagem. É a vida em sua dinâmica cotidiana.

Hoje, tenho liberdade e ainda nem sei direito o que fazer com ela. Tomo decisões e assumo suas consequências porque é isso que a liberdade impõe. Também sou insegura, mas esse é um direito que a liberdade me dá. Sigo por caminhos tortuosos, muitas vezes até errados, mas eles são necessários para que se reconheça o caminho certo.

Agora o tempo me escorre por entre os dedos, como poeira ao vento de uma outra canção do Kansas**. E tudo vai ficando para trás como essa estrada, que ainda se pode ver distante uma curva ou uma sinuosidade, mas que já está tão longe que o que resta é seguir em frente. Aos que ficam ou decidiram-se por outras estradas, meu sincero muito obrigado. Aos que vão continuar, dividiremos a incerteza do próximo passo.


Um conjunto aleatório ou previsíveis de eventos me trouxeram até aqui, daqui pra frente é sem saber***.

Izuara Beckmann,
29 de Abril de 2012.
Comentários:
*** Essa frase é também a primeira frase da música Lance de Dados - Engenheiros do Hawaii.
****Texto comemorativo, duas décadas e muita história pra contar.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Por trás das certezas


Por trás das certezas há ainda incertezas,
ainda há uma possibilidade não considerada...
ainda há o acaso, a infeliz coincidência.
Ainda há uma linha a ser traçada.

Atrás das certezas, ainda há o amanhã
que por si só já é incerto.
Ainda há uma improbabilidade,
um ponto de interrogação
ainda resta a dúvida...

Por trás das decisões já tomadas,
ainda há um último instante,
um último segundo para revertê-las.
Por trás da inevitável fatalidade,
ainda uma última chance,
um último suspiro.
Que pode acabar ficando para amanhã...

Por trás do destino traçado,
ainda uma ponta solta...
Que quase sempre aparece na última cena,
pra desfazer as certezas
e selar a nossa vulnerabilidade frente aos fatos.

Por trás das certezas, o aqui e agora,
que só prova que estávamos errados
quanto a uma tentativa de prever o que aconteceria.
Por trás das certezas a surpresa...
que existe para nos contradizer,
e fazer pulsar forte o coração frente ao desconhecido.
Que atende pelo nome de amanhã...

Izuara Beckmann,
27 de Abril de 2012
Comentários:
* Esse poema ainda é uma forte influência do melhor livro científico (e um dos poucos) que eu já li, tratando do papel do acaso e de como este pode determinar nossas vidas. Pra quem quiser conferir: O Andar do Bêbado - Leonard Mlodinow

terça-feira, 24 de abril de 2012

Tons de Cinza



Gosto do cinza do anoitecer,
quando o vermelho intenso
vai sendo substituído,
por um azul acinzentado.
Gosto da cor nostálgica,
que vai tingindo o céu,
precedendo a escuridão...

Gosto da linha tênue do horizonte,
confundindo-se com as linhas do meu pensamento.
Desenhando, rabiscando, modelando
uma paisagem dentro em mim.
Uma imagem em tons de cinza,
uma tradução visual,
da imaginação que voa longe...

Gosto do céu antes da tempestade,
das nuvens baixas e carregadas.
Da claridade que se esvai,
do tempo que escorre por entre os dedos.
Difícil de saber a diferença na hora,
já que o tempo parece correr
na velocidade que a claridade se vai...

Gosto de estar aqui,
como espectadora,
como parte pequena dessa cena.
Olhando de longe
algo que está tão perto,
quem sabe até aqui dentro.


Izuara Beckmann,
24 de Abril de 2012.

domingo, 22 de abril de 2012

Máscaras



Por trás dessa máscara de certezas,
ainda há questionamentos, dúvidas e perguntas sem respostas.
Por trás de todos esses objetivos perfeitos,
ainda há ruínas de sonhos desfeitos...

Por trás dessa aparência forte,
ainda rola uma lágrima ignorada...
Por trás de toda essa segurança,
ainda há um pé atrás em algum lugar.

Por trás desse disfarce de invencibilidade,
alguém ainda se senta e chora
depois de uma derrota qualquer...
Por trás de uma máscara vitoriosa,
ainda há o gosto de cada derrota já experimentada.

Por trás dessa máscara de independência,
ainda existe uma forte dependência.
Por trás desse coração inacessível,
ainda bate um sentimento sensível.
Por trás desse disfarce,
ainda há um rosto amigo.
Ainda há um sincero sorriso.

Izuara Beckmann,
22 de Abril de 2012

terça-feira, 17 de abril de 2012

Janela



Pela janela de casa, eu vejo a rua
Pela janela do avião eu vejo o céu,
e pela janela da imaginação, revivo lembranças.
Assisto a acontecimentos como se participasse de modo invisível,
Como se olhasse de uma janela,
a correria do mundo lá fora,
e vivenciasse cada conversa, cada olhar...

Da janela,
a vida lá fora parece ensaiada,
e o horizonte, um componente do cenário...
As pessoas, protagonistas de suas próprias vidas,
talvez me olhem aqui na janela
sem se dar conta de que agora, sou parte da plateia.
Talvez esses mesmos me olhem em uma outra ocasião,
como parte de uma plateia, de uma história que eu dirijo e protagonizo...

Um palco sem figurantes,
um roteiro sem desfecho conhecido,
a vida segue seu rumo,
sem ensaios e sem regravações.
Com cenas emocionantes,
e alguns erros nas gravações.

Izuara Beckmann,
17 de Abril de 2012.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Desencantada




Ela sabia. Sabia desde o início que se tratava de ilusão. Afinal, já não acreditava em finais felizes e por definição própria era desencantada. Um rapaz como ele e toda aquela atenção pra uma garota como ela, toda preocupação, toda simpatia, toda delicadeza, todo aquele charme e aquele sorriso bobo. Ela sabia que era ilusão.

Ilusão, era tudo que pensava quando estava com ele. Não se permitiria entregar-se a este devaneio, mantinha os dois pés atrás. Desviava a atenção pra qualquer ponto, quando ele lhe vinha à cabeça. “Não posso acreditar, é ilusão!”- repetia para si mesma, enquanto ele continuava a olhá-la com um sorriso bobo.

Mas as coisas não continuam como deviam ser... E em alguma infeliz coincidência, aproximaram-se o suficiente para ficarem sem ação. A mão dele aproximou-se do seu rosto enquanto ela tentava se convencer à mover-se dali – era ilusão.- repetia.  Os lábios se encostaram, os pensamentos se perderam, se misturaram e ficaram sem sentido e as calaram-se relutâncias.

Não sabiam dizer quanto tempo durou o beijo, mas com certeza, o silêncio entre este e o beijo seguinte foi maior. Ela, com um sorriso tímido, pensava – É ilusão, eu sei.

O que vamos dizer? Talvez ela tenha mesmo se cansado da vida real e acabara de preferir uma ilusão. A vida é mesmo assim... Será ilusão? Talvez. Mas neste momento era real. 

Izuara Beckmann,
12 de Março de 2012.*
Comentários:
*Escrito bem antes, encontrado só dia 12 de Março. 

terça-feira, 10 de abril de 2012

Do lado de dentro



Chuva, vento, tempestade,
Frio e escuridão.
Aqui dentro ou lá fora?

Tempestade em mim,
desarrumando o que já tinha lugar definido
e planos traçados.
Me deixando aqui,
com mais uma folha em branco...
E hoje vou deixa-la assim.

Ventania,
curvando expectativas.
Levando pinturas amareladas de mim...
Vida mudando, se renovando
mas agora é só o vento.
Aqui dentro ou lá fora?

Chuva,
lavando e inundando emoções,
arrastando sentimentos sem nome não sei pra onde.
Molhando a mobília,
daqui de dentro ou lá de fora?

Frio,
ressaltando a solidão,
destacando as lacunas não preenchidas de mim.
Num balançar mudo,
a mudar tudo em mim.
Enquanto embalam-se mudas,
as vidas lá fora...

Escuridão,
mais uma certeza do que uma opção.
Enquanto não dilatam-se,
as pupilas do coração,
fico a cegar-me de ilusões,
e as verdades se vão...

Daqui, eu olho a chuva lá fora.
Deixo as lágrimas brotarem.
Tudo parece ser o retrato,
concreto e abstrato,
sem porquê ou porém,
de tudo que acontece aqui dentro.
Izuara Beckmann,
10 de Abril de 2012

terça-feira, 3 de abril de 2012

Rimas Soltas




Quero rimar esses versos,
quero que rimem com meu sentimento hoje,
com minha indecisão e imprecisão,
com meu ser e não ser.

Quero que tragam a rima do dia-a-dia,
o imperceptível em sua melodia...
Quero que traduzam os olhares,
apesar dos pesares...

Quero que discorram sobre emoções ainda sem nome,
aquilo, indefinido, ainda sem resposta.
Quero que falem do antigo,
de tom amarelado, poético e esquecido.

Quero que capturem a simplicidade,
o óbvio, o ignorado e o disperso.
Quero que rimem com felicidade,
que talvez ainda seja rumo incerto.

Quero rimá-los em rimas soltas,
em um ritmo singelo.
Ainda que sejam tolas,
formem juntas um tom belo.

Quero que forjem um novo prosseguir,
e aqui não seja seu último paradeiro.
Quero que continuem em cada sentir,
em cada pausa para olhar o céu...

Quero que expressem, nem dor nem alegria,
talvez algo ainda sem tradução.
Que não digam mais do que precisam dizer,
e não voem além da imaginação.

Izuara Beckmann,
03 de Abril de 2012

quinta-feira, 29 de março de 2012

Campo Minado


O ruim de um campo minado*, é que você só percebe que está em um quando aciona a primeira bomba, e então, é tarde demais.

Isso deveria ser um manual de como perceber um campo minado antes de pisar nele, desculpe. Esse manual não existe. Por isso, esse é mais um poema inútil, ou como diz Fernando Pessoa, um Desassossego.

Sinceramente não há como evitá-lo**. Se tiver que enfrentar um – e enfrentará-, talvez encontre uma rota alternativa. Afinal, se alguém o plantou ali, teve de se certificar de que nenhuma explosão o atingiria e nem  impediria de ir e vir, portanto, existe uma rota alternativa.

Sinto iludi-lo por esse breve momento. A rota não estará sinalizada por placas ou instruções. Talvez o fato de imaginar que ela exista seja um consolo, depois de pisar em falso pela primeira vez. Acostumar-se com a ideia já é um passo.

Só isso. Os outros passos terá que descobrir sozinho. Não que eu esteja sendo insensível ou egoísta, é que eu só cheguei no primeiro. Mas anime-se, talvez você vá mais longe ou nunca passe por um.

Se nunca passar por um em guerras ou campo de batalhas, a vida está cheia deles... E não sei dizer agora, qual lhe ferirá mais ou qual cicatrizará primeiro.

Izuara Beckmann,
12  de Março de 2012

Comentários:
* KKKK, insiro risos nesses versos, nunca vi ninguém (normal) fazer isso. Mas abro uma exceção. Ruim de um campo minado?! Fala sério, alguém já encontrou a parte boa??? Felizmente os poemas (ou, nesse caso, prosas) não podem ser condenados por redundância. Então aqui vamos nós.
** O campo minado. Percebi que poderia deixar essa dúvida... na verdade Fernando Pessoa poderíamos evitar, já o campo minado, não tenho tanta certeza.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Insensata certeza


Prefiro ser incerta,
certezas não me chamam atenção.
Predeterminações não me convencem,
só escondem o que realmente são...

São desculpas, nossas desculpas
para moldar um mundo sempre igual,
tanto em ações como emoções.

Desculpa para justificar a rotina,
o hábito, o vício, o previsível...
Para explicar nossa falta de controle
do tempo e acontecimentos,
achando que se previstos,
serão menos incertos.

Desculpa nossa para evitar o caos...
Quem disse que o imprevisível é caótico?
Quem disse que o caótico não segue regra?
Quem disse que precisa ter explicação?
Quem disse que há solução?

Se essa é a desculpa,
prefiro não me desculpar.
Se ter “certezas” é sensato,
ainda prefiro a insensatez.
Cá pra nós, é bem melhor assim
desconhecer o início, ignorar o fim
.”*

Não tenho certeza,
nem pra tudo se precisa ter...
Não faz sentido nenhum,
nem tudo precisa fazer.

Izuara Beckmann,
24 de Março de 2012
Comentários:
*Verso extraído da música  A Fábula- Engenheiros do Hawaii, que além de melhorar esses versos, também foi grande fonte inspiradora.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Me deixe rir e fingir


Me deixe rir aqui,
lembrando das impossibilidades e desencontros da vida,
Lembrando de sofrer por amor,
de quase morrer de te amar…
e tudo mudar no dia seguinte.

Penso nas ironias da vida
por mais que se planeje tudo,
algo sempre nos surpreenderá um dia.
Aí você descobre o que te sobra,
e o que resta é rir.

Preciso tanto de você aqui,
estou morrendo de amores por você… 
Mas é só agora, hoje.
Amanhã tudo muda de novo.

"Só aceito a condição de ter você" aqui junto de mim,
ou o mais longe possível,
depende o dia…


Izuara Beckmann,

Comentários:
*Fruto dos amores desencontrados da vida e de uma música: Sentimental - Los Hermanos. 


quinta-feira, 22 de março de 2012

Hoje


Hoje não quero me entregar,
não quero deixar que a derrota me derrote.
Hoje não quero a rota que costumo tomar,
não quero os fracassos, nem desilusões,
nem os desenganos.

Quero a ausência de tudo,
quero a ausência de mim.
Quero a ausência do medo e da coragem,
ausência da certeza e da indecisão.

Quero por um minuto um meio-termo,
quero não ter opção.
Quero não precisar me decidir,
quero poder ficar aqui...
Sem motivos, nem razões
apenas canções...

Izuara Beckmann,
16 de Setembro de 2010.
Comentários:
* Como uma velha fotografia, esses versos me lembram partes de mim que deixei para trás ou justificam muitas atitudes que ainda tenho. Posto nem tanto por gostar deles, mas como uma fotografia que você não sabe se gosta, mas não se arrisca a jogar fora e deixar que aquelas lembranças escapem por entre os dedos. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Sentimento de vazio

É um sentimento sem nome definido,
sem cor nem expressão.
É um sentir nada,
nem extremos, nem meio-termo.

Sentir-se vazio não deveria ser
um nome para um sentimento,
já que nada representa
além de ausência de sentimentos.

Sentimento sem nome,
sem formas sólidas ou abstratas...
Sentimento de não sentir nada,
contradição!

Me sinto assim,
mas não sei como sentir...é vazio.

Izuara Beckmann,
08 de Dezembro de 2010.

terça-feira, 20 de março de 2012

Quem sou eu?


Essa sempre foi uma pergunta que me intrigou, e está sempre em descrições de páginas e perfis na web.

Não que eu me questionasse a respeito de quem sou, a pressa e correrias cotidianas não nos dão mais espaço para abstrações, mas sempre respondi à essa questão com outra pergunta (ao menos mental) de quem sou eu, afinal?

Para minha sorte e restrição das abstrações, muita gente antes já havia respondido à mesma indagação: com nome, idade, endereço e interesses. Na súbita reação que temos ao encontrarmos um a resposta àquilo que nos inquietava, em geral, substituímos por nossos próprios dados e fim de papo.

Mas não somos um endereço, ou uma idade e nem mesmo um nome. Somos feitos de sonhos, escolhas certas ou não, decisões, avessos e inquietudes... Coisas assim que nem se quer conseguimos traduzir em palavras. Somos pessoas diferentes, apesar de iguais em tanta coisa, temos uma personalidade dotada de uma particularidade só nossa e elaborada com a junção de tudo que vivemos e aprendemos, mais os sonhos que ainda temos.

Particularmente, sempre respondi com trechos de músicas ou poemas e prosa de Clarice, Fernando Pessoa, Caio Fernando Abreu e outros. Não sou Clarice, nem Fernando e menos ainda um poema ou prosa que faça algum sentido. Buscava apenas alguma coisa para traduzir-me em partes, em momentos.

Não acho que seja resposta fácil, não acho que tenha resposta. Sou mais pintura abstrata, sem contornos definidos ou um destino traçado. E se me olhando assim, você não sabe dizer quem sou, provavelmente eu também não saiba.

Hoje, na falta de resposta, substituí o “Quem sou” por “sobre” e ainda coloco meu nome e idade, mas agora completo com versos de próprio punho.

Izuara Beckmann,
13 de Março de 2012

domingo, 18 de março de 2012

Decisões e reversões


Gire a maçaneta, abra a porta,
deixe tudo para trás.
Liberte-se de suas angústias,
hoje não é dia de pensar no que ficou.

Não lamente, abra seus olhos
Deixe a luz dessa manhã clara,
te convencer a ir em frente.
Vai deixar que o medo a impeça?

Respire fundo, precisa de uma decisão?
Não se preocupe com o tempo,
não dá mais pra consertar as coisas.
Dê um primeiro passo, abandone toda nostalgia…

Ouça a canção que toca,
deixe que seus passos tomem o ritmo,
e seus movimentos acompanhem a melodia,
e a letra te diga mais uma vez: "Tudo vai ficar bem!"

Veja, você está dançando,
olhe para frente agora…
Coisas maravilhosas te esperam,
e estão no caminho a sua frente.

Você precisa correr, tudo está longe agora…
Se não estiver longe,
talvez esteja depois daquela esquina.

Izuara Beckmann,
20 de Agosto de 2010.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Pedras e castelos


Indestrutível, todo munda acha ou achava que era.
Mas a vida não perdoa quem pensa assim.
Tudo bem, não a culpo.

Pensa-se assim, até que um dia a vida te coloca de joelhos, te curva.
Te deixa com o rosto colado no chão.
Te deixa com uma cicatriz, não no rosto, mas no coração.
Tudo ainda estaria bem, se ficasse assim.
Mas ela quer mais de você.
Ela te faz levantar, engolir as lágrimas.
Te faz colocar um sorriso de gelo na cara,
e ainda atuar como se tudo estivesse bem.

Como eu disse, não a culpo.
O que aprenderíamos se ela nos deixasse de joelhos?
Apenas que não somos indestrutíveis?
Ela te ensina mais. Ninguém se importa se és indestrutível ou não.
Te ensina a não esperar, que mãos humanas te ofereçam ajuda.
Te ensina a erguer a cabeça sob todo o peso do mundo,
pra te ensinar a ser gente.
Te mostra o gosto da derrota,
Para que você reconheça a vitória quando a encontrar.

Nem todo mundo vê assim.
Alguns ainda estão de joelhos, preferem abaixar os olhos e
consumir-se em dor.
Nascemos encantados, a vida nos desencanta.
Desencantada, um dia eu ergui a cabeça.
Coloquei meu melhor sorriso.
Ensaiado ou não, quem se importa?
Fingi ser verdade, até o dia em que realmente foi.

Minhas conclusões:
O que nos faz indestrutíveis, não é nunca ser derrotado...
e sim “das pedras do caminho, construir um castelo...”
Se um dia serei indestrutível? Claro que não.
A vida também me encontra dentro de meu castelo.
Me coloca de joelhos a hora que bem entende.
Não que eu tenha me acostumado,
só que agora já conheço o caminho para me levantar.
O faço milhares de vezes, sem me importar.

A vida, sempre me surpreende.
Tenho mais medos dos pedestais que ela me oferece,
do que do chão ao qual ela me curva.
Afinal, a queda dos pedestais é maior.

Izuara Beckmann,
08 de Dezembro de 2011