quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Destorcer


Eu e meu copo de cerveja.
E um livro por ler,
e um poema por terminar,
e tanto por viver.

Eu e meu copo destilado.
E o futuro por decidir,
e o destorcer das horas,
e uma festa por deixar de ir.

Eu e meu copo de certezas.
E as controvérsias,
e as contradições,
e a contra mão.

Eu e meu drink de insanidade.
E minhas palavras sem sentido
e meus pensamentos,
que me alcançam antes da embriaguez.

Eu, a música de fundo,
os inquilinos da minha solidão,
e os copos 
que não cheguei a contar.


Izuara Beckmann,
27 de Novembro de 2014.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Diálogo #5

Antípoda

- Como você veio parar na Nova Zelândia?
- Amor.
- Uau! Isso que eu chamo de amor. Abandonar tudo por uma pessoa... Adoro esse tipo de histórias, como foi a sua?
- Eu o conheci na Espanha durante os meses em que trabalhei por lá. Soube desde o começo que era amor... Então, procurei um lugar que fosse diametralmente oposto no planeta e me mudei.


Izuara Beckmann,
10 de Novembro de 2014.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Diálogo #4

Heterônimos

- Finalmente entendo Pessoa.
- Prossiga. Disse-lhe o psicanalista.
- Ele não escrevia como se fosse pessoas diferentes, ele era pessoas diferentes. Todas elas.
- Entendo... E como você se sente a respeito?
- Quais de mim?

Izuara Beckmann,
05 de Novembro de 2014.

Diálogo #3

Spoiler

- Chegou sua hora.- Diz a morte.
- Como assim? Eu não posso morrer agora...
- Lamento dizer, mas não é uma opção.
- Mas, e tudo que eu fiquei de entregar segunda?
- Lamento...
- E as séries? E os livros? E todos os finais de saga que eu nunca vou saber?
- Se quiser, posso te contar os finais.
- O quê? Como você ousa tentar me consolar com spoilers?! Aí eu prefiro morrer mesmo!
- Que bom que esclarecemos o próximo passo.
- Outro spoiler?!


Izuara Beckmann,
05 de Novembro de 2014.

Este diálogo é só pra provar o que eu já sabia... minha incapacidade de produzir um texto engraçado só não é maior que minha vontade de continuar escrevendo.

sábado, 1 de novembro de 2014

Diálogo #2

Esquecimento

- Me diz uma coisa...
- Sim?
- Como foi que você esqueceu o Alberto?
- Eu sempre fui muito criativa. Inventei uma história...
- E?
- Fiz o que os escritores costumam fazer à respeito de suas criações: Acreditei nela.

Izuara Beckmann,
01 de Novembro de 2014.

Diálogo #1

Carmesim

- Cor preferida?
- Carmesim.
- Carmesim? Isso é o que?
- Um tom de vermelho forte combinado com azul.
- Hum...
- Sabe, este sempre foi o problema.
- A cor?
- Não. A vida é sempre vermelha ou azul, nunca carmesim.
- Acho que o problema é que você sempre exige demais das coisas comuns. 

Izuara Beckmann,
01 de Novembro de 2014.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

SuRtO


Já é tarde. Precisa dormir enquanto pode.
Insônia. Precisa de uma dose.
Tontura. Nada de sono.
Filme. Três da manhã.
Escuridão. Tropeços pelo cômodo.
Cama. Reviravoltas.
Fecha os olhos. Parece abri-los em outro lugar.
Sonho agitado. Turbulência.

Som estridente. Susto.
Despertador. Passa das sete.
Correria. Banho.
Correria. Engole meio pão de ontem.
Trânsito. Café.
A mente não para. Música.
Esquecimento. Buzinas.

Meio almoço. Atraso.
Relógio que não para. Correria.
Contramão. Mais buzinas.
Muita coisa. Pouco tempo.
Sono. Café.
Dor de cabeça. Duas aspirinas.
Prazos. Prazo esgotado.
Frustração. Mais algumas horas.
Café. Energético.

Nove da noite. Tempo limite.
Razão no limite. Cinco minutos.
Café. Corrida contra o relógio.
Tremores involuntários. E só a cafeína.
Horas. Minutos.
Tic-tac enlouquecedor.
Então, despertador.
Mais um prazo que se esgota.
Fracasso. Frustração.
Alívio. Pode enfim dormir.
Fecha os olhos. Insônia.

Izuara Beckmann,
27 de Outubro de 2014.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Ciclos Inconstantes


Nada é permanente,
ainda que a mesma sina
nos acerte de novo
em outra esquina.

Ainda que os dias se repitam,
como se nem ousassem
diferenciar-se em números
ou dias da semana.

Nada é definitivo,
os significados não são,
dependendo de onde estão,
por quê as palavras haveriam de ser?

Mesmo o poema
que pareça, por hora, contido
vai se encarregar de ser diferente
ao próprio ser que lhe atribuiu sentido.

Izuara Beckmann,
24 de Setembro de 2014

domingo, 21 de setembro de 2014

Plural


Ninguém sabe de verdade quem eu sou.
Não digo por puro capricho.
Se alguém porventura souber,
tenha a decência de me elucidar.

Sou várias em mim,
por vezes opostas.
Quando descubro um caminho enfim,
não seis quais de mim querem traça-lo.

Sou toda interrogação,
sedenta de algumas certezas,
por vezes na contramão,
encontro partes esquecidas de outro eu.
Sou plural,
em pronome singular.

Já fui todos
quis estar em todos os lugares,
quis ser sempre diferente.
enlouqueci em busca de ser una.
Abraçando por fim a loucura completa,
pude enfim, ser poeta.

Izuara Beckmann,
05 de Agosto de 2014.

terça-feira, 3 de junho de 2014

O sobrevivente


Sobreviveu à explosão,
ao aumento brusco de temperatura.
Resistiu até mesmo à solidão,
e a extinção de toda cultura.

Conservou-se em movimento,
tinha tudo e tudo era nada,
sobre uma superfície arrasada,
prosseguia uma sina arrastada.

Mas não escapou da paranoia,
das sortes jamais seladas,
de ser seguido por todos que já não eram,
das vozes eternamente caladas.

Não restou nada que justificasse a busca,
nenhuma gota de esperança.
Tudo foi se esgotando aos poucos
até não sobrar nem a rima.

Izuara Beckmann,
04 de Junho de 2014.


** Poema publicado também em Cyber Café - Clube do Conto.

domingo, 1 de junho de 2014

Sonho e realidade


     Sonhou. E no sonho era um corcel negro em chamas. Não sentia dor, nem mesmo calor. Apenas disparava em direções aleatórias numa velocidade, que ele simplesmente sabia, superava a do som.
      Sempre tão sistemático e tão programado. Poderia dizer com certeza onde estaria na quinta-feira às cinco da tarde, mesmo sendo ainda início de semana. A simples ideia de tomar um rumo aleatório lhe dava calafrios, tudo era antecipadamente calculado e decidido.
     Fora da realidade, deixava rastos em chamas ora na relva verde, ora em terreno árido. O vento, por vezes tão forte que lhe obrigava a fechar os olhos, parecia conduzir seus passos as fronteiras derradeiras. Precipícios, o limite e sua negação.
     Sempre um meio termo. Nada de extremos, exageros ou riscos. Tudo linearmente predisposto. Tudo certo, respondido e definido.
      Em seu devaneio não era nada além do corcel. Não pensava em nada. Não respondia às perguntas que lhe cutucavam a mente. Ignorava os fatos, os avisos e as certezas. Inconstante. Inconsciente.
     Acordou as 6:25 como de costume. Tinha um ônibus pra tomar às 7:00 e uma apresentação no trabalho. Constante. Consciente. 

Izuara Beckmann,
 12 de Maio de 2014.



* Imagem Fonte: 25 Hot and Sizzling Depictions of Fire - nº 18
** Poema publicado também em Cyber Café - Clube do Conto.

domingo, 11 de maio de 2014

Sebastian


Era um anjo. Tinha as malditas asas para lembrá-lo disso. Foram deixadas como uma eterna lembrança de quem nunca mais poderia ser. Se pelo menos pudesse voar com elas, seria uma pequena compensação afinal. Mas não podia, nunca mais poderia. E era disso que ele sentia mais falta. Por isso, as asas lhe pesavam tanto. Por isso lhe doía tanto.
Já não tinha um nome de anjo. Este, como sua essência divina, tinham se perdido na queda, e tudo parecia parte de uma vida tão distante que lhe sobravam dúvidas se um dia fora realmente sua.
O que se costuma ignorar, quando se é um ser divino e decide definitivamente viver como humano, é que quando se torna capaz de sentir, esses sentimentos incluem tudo: amor, medo, dor, aflição, insegurança, ódio, alegria, tristeza entre outros.
Este é, portanto, Sebastian. Tem um par de asas, um amor não correspondido, um medo inexplicável do escuro, um amigo incrível, uma dor de cabeça insistente e tantas dúvidas quanto grãos de areia numa praia. 

Izuara Beckmann,
05 de Maio de 2014.

** Poema publicado também em Cyber Café - Clube do Conto.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

terça-feira, 22 de abril de 2014

Moço do sorriso aberto

De olhar sincero e verdadeiro
menino de sorriso aberto,
possam os teus devaneios
guiarem-te mesmo quando desperto.

De gargalhada contagiante,
moço do sorriso solto
nem tudo é como antes,
em um novo estás envolto.

De olhar distante,
de sonhos à mostra
Que a felicidade te alcance
nas entrelinhas do que gostas.

Que os vai-e-vens de sua jornada,
Deus permita, cruzem-se de novo com a minha.
Que as curvas desta estrada,
te permitam, por vezes, perder a linha.

Izuara Beckmann,
21 de Abril de 2014.

Poema dedicado ao meu querido amigo Jean Racene. Parabéns pelo seu aniversário. =)

segunda-feira, 24 de março de 2014

Percepção


As máscaras,
a respiração,
segurá-las
é pura exaustão.

Olhar em foco,
estranhezas à mão.
O dia passa,
em contrária lentidão.

De encontro a pele,
ruído do mundo,
o som, o ser
distante e mudo.

Sob a língua,
abaixo do céu
o gosto de tudo,
amargo de fel.

Izuara Beckmann,
24 de Março de 2014.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Desacerto


Você esta certo,
E eu estou errada.
O mundo está com a razão
nós é que somos  culpados...

O tempo nos tem deixado de lado
desde cedo, estamos atrasados.
Desde sempre somos os errados.

O que parecia correto,
nos deixa cada vez mais incertos.
E em nosso desacerto,
os dias nos mantém prisioneiros.


Izuara Beckmann,
9 de Fevereiro de 2014.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Castanhos


Ah, estes olhos castanhos!
Pudesse eu em meus devaneios,
Transpor o que nos torna estranhos,
Podendo enfim aquietar meu anseio.

Algo esconde atrás deste nobre olhar,
Seus segredos me deixam inquieto,
Sinto uma explosão de sentimentos,
Que me instigam ainda mais;
A querer te descobrir,
A querer te desvendar.

Se a mim coubesse,
Tais mistérios deslindar,
Testemunharia meu desejo em prece,
De teu olhar reencontrar.


14 de Janeiro de 2014.

Poesia escrita em parceria com Ítalo de Paula Casemiro, que além de um grande amigo, escreve brilhantemente o blog  http://doceavesso.blogspot.com.br . Vale a pena conferir!