domingo, 27 de maio de 2012

Ah, o amor!


Ah, o amor e sua rebeldia,
com sua doce melodia,
a embalar dois seres numa mesma sintonia,
deixando a vida com cara de nostalgia.

Ah, o amor em sua confusão
que moves ainda a emoção,
encaixa-se em qualquer canto do coração,
Ignorando a incerteza dos dias que virão.

Ah, o amor em sua brandura,
misturando tudo em doses de loucura,
dilui-se em sonhos a amargura.
Escreve-se tudo em uma nova partitura.

Ah, o amor em sua insensatez,
devora pouco a pouco a lucidez.
E nos leva até onde, talvez,
não escapemos mais de sua embriaguez. 

Izuara Beckmann,
27 de Maio de 2012.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Auto-estrada



Hoje, tomei o caminho contrário
hoje, esqueci o habitual e comum,
aventurei-me por esse caminho desconhecido.
Lancei-me nesse abismo sem fim, será que tem?

Nessa loucura, como costumam chamar,
descobri pedaços do paraíso.
Em cada curva, uma nova emoção
e já não importava mais a prevalência da razão.

Quis continuar nessa rota,
quis o desconhecido, o novo, o improvável.
Quis o gosto de uma decisão só minha,
quis o doce e o amargo das consequências.

Tracei planos, e segui por outra estrada
e olhar pra trás já não me pesa sobre os ombros,
nada pode mudar o que ficou,
considerando isso, tenho tudo ainda por fazer.

Talvez me esqueça do caminho e me perca de novo,
mas estar perdido é uma questão de ponto de vista.
Se estou, não me importo. Será que estou?
O que sou não me recordo. Já fui?

As coisas ainda parecem se repetir num ciclo ensaiado,
numa frequência irritante.
Tudo bem, devo mesmo aprender a lidar com tudo isso.
Tudo isso é contratempo nessa estrada,
que eu não sei se tem fim, será que tem?

Izuara Beckmann,
24 de Maio de 2012.
Comentários:
* Escrito ontem, e ontem, me parecia incompleto. Hoje, já me parece completo. Fica a (des)gosto de quem lê.

domingo, 13 de maio de 2012

Cinza em cinzas



Cinza,
dos espelhos,
das sinas.
Dos avessos,
das rimas.

Cinza,
dos telhados,
das cidades,
das paredes,
das sonoridades.

Cinza,
da rua,
da nuvem.
Da lua.
Do frio,
da noite.

Cinza,
no abstrato,
no reflexo,
no compacto,
no incompleto.

Cinzas,
dos amores.
Do amargo
nos sabores.

Cinzas,
das complexidades,
das incapacidades,
das verdades.

Izuara Beckmann,
13 de Maio de 2012.



terça-feira, 8 de maio de 2012

Silêncio e solidão



Encanta-me a solidão,
Aqui, eu não preciso repetir o que já disse,
eu nem preciso dizer.
É como se encarasse um espelho de mim,
sem as máscaras que costumamos ter,
e pudesse ver as cicatrizes que elas não deixam transparecer.

E posso continuar assim, muda.
Aliás, esta é outra beleza da solidão, o silêncio.
Posso finalmente ouvir os movimentos silenciosos,
os pulsares mudos de emoções,
o ritmo suave das canções que tocam imperceptíveis...

Aqui, me deixo embalar por essa brisa branda,
por esse sussurrar calmo das folhas ao vento,
por essa melodia viva e pulsante, no entanto muda,
que palpita dentro em mim...

Aqui, fico a encarar-me de frente
sem medo que me faltem as palavras,
ou as justificativas para o que fiz ou deixei de fazer.

Não me preocupo com quem fui no caminho até aqui,
basta-me a certeza de que fiz o que podia com o que tinha nas mãos,
usando as oportunidades que possuía.

Aqui, sou quem eu sou de verdade,
não quem me permito ser lá fora.
Enfrento-me com os medos infantis ,
e com coragens inconsequentes que tenho,
aceito-me em meus avessos. 
Afinal, isso é meu... Isso sou eu.

Izuara Beckmann,
08 de Maio de 2012
Comentários:
* Hoje, abandonando as rimas, escrevi do jeito que veio a mente. Afinal, só porque é confuso, não quer dizer que não faça sentido. E os pensamentos, assim como a vida, não seguem uma linha reta e previsível, talvez até, porque nós preferimos as surpresas...
** Para desmentir o que disse até aqui, a última estrofe foi acrescentada depois, na releitura. Não me culpo por meus impulsos, afinal, isso é meu... Sou eu.


quinta-feira, 3 de maio de 2012

O Sabor da Vida



Quero viver enquanto estiver viva,
enquanto ainda pulsar um coração.
Apostando em cada tentativa,
enquanto ainda encantar-me a emoção.

Viver, enquanto estiver viva
Enquanto soar ainda a melodia.
Enquanto ainda restar alternativa,
mesmo depois de terminado o dia.

Viver, a base de qualquer expectativa,
à luz de um sonho qualquer.
Viver enquanto estiver viva,
estando onde estiver.

Enquanto estiver viva... Viver,
enquanto brilhar essa luz intensa,
sem me curvar nem ceder
à margem de qualquer desistência.

Viver a vida em todo o seu sabor...
Viver, enquanto estiver viva
Afinal viver é melhor,
quando me sinto viva.

Izuara Beckmann,
03 de Maio de 2012.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Gente Grande


Era uma vez um mundo de gente grande. E como toda gente grande, só se preocupavam com coisas grandes. Um lugar onde as minorias não tinham vez, só valia a pena apostar em coisas maiores. Um mundo de simplicidades esquecidas e de detalhes ignorados, pois eram pequenos demais para serem levados em conta.

Ninguém dedicava-se ao comum e dispensável, todo o tempo era estritamente calculado e empregado em coisas grandes e relevantes. E ninguém mais tinha paciência com as coisas bobas como conversas engraçadas, pôr-do-sol ou caminhada ao ar livre, ou banho de chuva... Tudo isso era pequeno demais para toda aquela gente grande. Nem mesmo as crianças estavam livres para isto, afinal tinham que começar cedo a se preparar para as grandes responsabilidades.

Um dia, no planeta das coisas grandes, todos estavam ocupados com suas grandes coisas quando tudo começou a desprender-se aos poucos. Mas ninguém deu atenção, pois tinham coisas maiores com que se preocupar. Até que tudo foi de vez ao chão. 

E, finalmente as pessoas grandes aprenderam que as coisas grandes também são feitas de simplicidades e pequenos detalhes. 

Izuara Beckmann,
25 de Março de 2012.
Comentários:
* Não acho que o mundo atual seja esse mundo de gente grande, mas cada vez mais caminhamos para isso. E quando o dia das "pessoas grandes" chegar, eu quero continuar aqui, pequena. Fazendo coisas de gente pequena, coisas dispensáveis, banais e até tolas. Quero estar aqui, atenta aos detalhes e não quero perder o imperceptível, as simplicidades.