quinta-feira, 30 de maio de 2013

Assimetria


Dois lados,
mesma moeda.
Inverso,
mais um verso.

Ordem em descontinuidade.
Uma linha,
meia verdade.

Vertigem,
lado avesso
da mesma origem.

Ilusão de óptica,
ideia,
fora de órbita.

Izuara Beckmann,
30 de Maio de 2013.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ensejo


Não sabia o que fazer,
isso era constante, quase regra.
Não tinha pra onde correr,
fugia de tudo, às cegas.

Esperara por tanto tempo,
as coisas não são como devem ser.
O cenário passava distorcido e lento,
ainda estava preso ao que não podia ter.

Tinha tantos sonhos esquecidos,
tantos fantasmas no armário.
Coisas que a gente se apega
quando se é solitário.

Mas onde pensava ser o fim,
era só o começo.
E pôde lutar enfim,
por tudo o que não tem preço.


Izuara Beckmann,
23 de Maio de 2013.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Relicário



Poderia ter guardado em outro lugar.
ou ter esquecido por opção.
Poderia deixar o tempo apagar,
mas quis colocar naquela canção.

Quis poupar a memória,
daquela recordação.
Afinal, era só mais uma história,
dessas que não se dá muita atenção.

Quis evitar que a recordação
caísse no esquecimento.
Preferiu deixar ao alcance da mão,
aquele estranho sentimento.

E ali estava,
gravado na melodia
uma chance eternizada
feito uma velha fotografia.


Izuara Beckmann,
16 de Maio de 2013.


quinta-feira, 9 de maio de 2013

Insentido


Sinto muito,
por tão pouco sentir.
Por querer demonstrar,
e fingir me importar.
Sinto tanto,
por tanto querer,
e entre tantos anseios
me perder.
Sinto,
por pura contradição.
por levar a vida,
na contramão.
Por querer não sentir,
e do que sinto
me esconder.
Sinto tanto,
e no entanto,
por enquanto
nada sinto,
apenas minto.



Izuara Beckmann,
09 de Maio de 2013.

domingo, 5 de maio de 2013

Olhos Invisíveis

     Eu vi a morte, mas não a reconheci. Ela não usava aquela capa preta usual, e nada de foice. Parecia uma velha amiga, dessas que marcam a sua vida. Portava aquele sorriso pesaroso, como alguém que traz uma má notícia, mas não pode deixar de dá-la.
     Gentilmente, ela colocou as mãos em meu ombro, quase como se fosse conforto suficiente. Seus olhos estavam próximos, tinham uma clareza indescritível. Talvez eu me apaixonasse perdidamente, não fosse a notícia que portavam. Eu sabia. Sempre soube. Aqueles olhos me acompanhavam desde sempre. Estavam sempre lá. Finalmente, eram visíveis.
     Naquele momento, me passaram mil mínimas esperanças pela mente. E se eu fugisse? Se corresse desesperadamente em qualquer direção? E se fosse só um sonho? Como eu acordaria? Meus olhos ainda estavam perdidos naqueles à minha frente. Eles tinham as respostas. Nenhuma delas dava suporte à meus devaneios momentâneos.
     Sorriu. Quase como uma gargalhada contida. Poderia parecer macabro, mas tive que rir. Era óbvio. A morte, já deve esperar por algo assim. Já era hora de ir, não me restavam mais alternativas. Nem quis passar para a parte da negociação, quis ficar com o último sorriso. Só pra poder dizer, sem saber ainda pra quem, que arranquei uma gargalhada da morte.

Izuara Beckmann,
6 de Maio de 2013.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Desconexo


A dúvida é sempre,
uma desculpa coerente,
um argumento plausível,
pra continuar no previsível.

No erro, tem sempre,
uma lição escondida,
de que uma coisa perdida,
pode levar a algum aprendizado.

O fim, quase sempre,
é só uma segunda chance.
Para que a vida entre
nos eixos novamente.

Na vida, a gente
espera de repente,
poder levar de forma diferente,
tudo que julgamos incoerente.

Izuara Beckmann,
02 de Maio de 2013.