Eu vi a morte, mas não a reconheci. Ela não usava aquela
capa preta usual, e nada de foice. Parecia uma velha amiga, dessas que marcam a
sua vida. Portava aquele sorriso pesaroso, como alguém que traz uma má notícia,
mas não pode deixar de dá-la.
Gentilmente, ela colocou as mãos em meu ombro, quase como se
fosse conforto suficiente. Seus olhos estavam próximos, tinham uma clareza
indescritível. Talvez eu me apaixonasse perdidamente, não fosse a notícia que
portavam. Eu sabia. Sempre soube. Aqueles olhos me acompanhavam desde sempre.
Estavam sempre lá. Finalmente, eram visíveis.
Naquele momento, me passaram mil mínimas esperanças pela
mente. E se eu fugisse? Se corresse desesperadamente em qualquer direção? E se
fosse só um sonho? Como eu acordaria? Meus olhos ainda estavam perdidos
naqueles à minha frente. Eles tinham as respostas. Nenhuma delas dava suporte à
meus devaneios momentâneos.
Sorriu. Quase como uma gargalhada contida. Poderia parecer
macabro, mas tive que rir. Era óbvio. A morte, já deve esperar por algo assim. Já
era hora de ir, não me restavam mais alternativas. Nem quis passar para a parte
da negociação, quis ficar com o último sorriso. Só pra poder dizer, sem saber
ainda pra quem, que arranquei uma gargalhada da morte.
Izuara Beckmann,
6 de Maio de 2013.