terça-feira, 3 de junho de 2014

O sobrevivente


Sobreviveu à explosão,
ao aumento brusco de temperatura.
Resistiu até mesmo à solidão,
e a extinção de toda cultura.

Conservou-se em movimento,
tinha tudo e tudo era nada,
sobre uma superfície arrasada,
prosseguia uma sina arrastada.

Mas não escapou da paranoia,
das sortes jamais seladas,
de ser seguido por todos que já não eram,
das vozes eternamente caladas.

Não restou nada que justificasse a busca,
nenhuma gota de esperança.
Tudo foi se esgotando aos poucos
até não sobrar nem a rima.

Izuara Beckmann,
04 de Junho de 2014.


** Poema publicado também em Cyber Café - Clube do Conto.

domingo, 1 de junho de 2014

Sonho e realidade


     Sonhou. E no sonho era um corcel negro em chamas. Não sentia dor, nem mesmo calor. Apenas disparava em direções aleatórias numa velocidade, que ele simplesmente sabia, superava a do som.
      Sempre tão sistemático e tão programado. Poderia dizer com certeza onde estaria na quinta-feira às cinco da tarde, mesmo sendo ainda início de semana. A simples ideia de tomar um rumo aleatório lhe dava calafrios, tudo era antecipadamente calculado e decidido.
     Fora da realidade, deixava rastos em chamas ora na relva verde, ora em terreno árido. O vento, por vezes tão forte que lhe obrigava a fechar os olhos, parecia conduzir seus passos as fronteiras derradeiras. Precipícios, o limite e sua negação.
     Sempre um meio termo. Nada de extremos, exageros ou riscos. Tudo linearmente predisposto. Tudo certo, respondido e definido.
      Em seu devaneio não era nada além do corcel. Não pensava em nada. Não respondia às perguntas que lhe cutucavam a mente. Ignorava os fatos, os avisos e as certezas. Inconstante. Inconsciente.
     Acordou as 6:25 como de costume. Tinha um ônibus pra tomar às 7:00 e uma apresentação no trabalho. Constante. Consciente. 

Izuara Beckmann,
 12 de Maio de 2014.



* Imagem Fonte: 25 Hot and Sizzling Depictions of Fire - nº 18
** Poema publicado também em Cyber Café - Clube do Conto.